julho 27, 2010

100 ANOS DE CLAUDE LÉVI-STRAUSS

O célebre etnógrafo belga faleceu no ano passado, após completar um século de vida. Utilizava um febril sistema de pesquisa, monasticamente e embriagado de mitos, vivendo entre os indígenas que estudava. Entre 1960 e 1970 compilou centenas de narrativas, que formaram a base para o seu entendimento da condição humana. Viveu quatro anos no Brasil e colaborou na fundação da Universidade de São Paulo.


No livro O CRU E O COZIDO, referência principal que adotei para fazer esta ilustração para revista BIONestlé, Lévi-Strauss se debruça sobre os mitos seminais dos povos indígenas que conheceu no Brasil. O subtítulo da obra – representações míticas da passagem da natureza à cultura – dimensiona a importância da alimentação quanto à distinção entre animais e seres humanos. Todos os mitos que reuniu nesse livro falam da descoberta ou do manejo do fogo por diversos povos indígenas. Ou seja, tratam do momento em que deixamos de comer cru, metáfora da natureza, e adotamos o fogo, ou cultura em última análise. Mais adiante, pela evolução de suas reflexões, chega a estabelecer inclusive uma classificação entre assado e cozido. Assado como sinônimo de sensual na culinária. Cozido como análogo ao que é nutritivo. O modo de preparo e a fartura dos alimentos também foram observados. Para ele, comida boa e farta seria um antídoto contra a fome e o medo. E a sofisticação nas receitas, portanto, sinalizaria uma maior ordem social. Por mais universal que desejasse ser, Lévi-Strauss não escapou de sua própria cultura. Ou da influência das sua perspectiva européia. Analisou outros povos a partir do que comiam, vestiam e agiam. Sem alcançar a imparcialidade plena, algo provavelmente impossível a toda e qualquer análise. Mesmo à científica, que sempre terá um ponto de partida e referência.

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