junho 02, 2010

ÓPERA BRASIL DE EMBOLADA

Convidado pela Pallas, eu e Eduardo Okuno cuidamos do projeto gráfico do poema multiforme do Rodrigo Bittencourt. Para criar as imagens, parti das suas tantas sugestões, associações, trocadilhos e referências. Encarei o texto como uma letra de canção. Dessa maneira, o papel da música coube às ilustrações. O livro será lançado no 12º Salão FNLIJ para Crianças e Jovens, no Rio de Janeiro.

Acima uma justa homenagem ao Chico Buarque, nosso Bob Dylan, nas palavras do autor. E também ao genial baiano Dorival Caymmi, no canto superior direito. O inesquecível Garrincha, trickster do visgo do improviso e da beleza improvável, mereceu uma página dupla.



Rodrigo Bittencourt é um Zé Pilintra das artes, quizomba ambulante, Exu rock’n’roll. Misto de poeta, agitador cultural, compositor e apresentador de tv, cabe tudo no balaio do homem, brasileiro brasileiríssimo que é. Depois de se embrenhar em todos esses redemoinhos de Saci, eis que agora ele saca esta opereta pop, este samba-exaltação do crioulo doido, esta ode graciosa ao “mulato inzoneiro” Brasil, com jeito de conto de Sherazade cabocla, Irmãos Grimm do cerrado, cordel mp3, conto da Carochinha delirante.

Escrito para crianças dos 4 aos 84, Ópera Brasil de Embolada é um passeio pelas belezas e mazelas do nosso caldeirão cultural fervente, onde, em se plantando, tudo sempre deu e dá. Elegia alegórica da miscigenação, acaba por ser, mesmo sem querer, informativo e educador, ao traçar um painel multicolorido (e caótico, como o nosso país afinal!) das artes tupiniquins de (quase) todos os tempos.

Aquarela do Brasil partida em pedaços, playmobil de casa grande & senzala, a escrita de Rodrigo tem lirismo e loucura, carnaval e decadência, ritual e sátira, folia e lucidez. Macunaíma que foi à escola, Malasartes beatnik, Policarpo Quaresma funkeiro, o cara mistura lé com cré e zás e trás com cousa & lousa e etc e tal. O resultado é uma leitura saborosa e leve, onde o Brasil reluz como nação iluminada do futuro, não por obra de políticos e tecnocratas, mas unicamente pelas mãos e milagres de seus artistas e de seu povo.

Evoé, saravá, salamaleicon!

Zeca Baleiro
São Luís, 7 de maio de 2010