dezembro 09, 2009

2010: ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE


Acima uma pequena amostra multicolorida da nossa avifauna, face externa do cartão de boas festas feito para a Global Editora. O tema 2010: ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE, conforme declarado pela Assembléia Geral da ONU, foi o gancho. Em outubro teve início uma campanha de sensibilização para a salvaguarda da biodiversidade. Precisamos contrapor a perda da biodiversidade no mundo, mil vezes superior ao ritmo natural. Para não estragar a surpresa alheia, não postei a ilustração interna que fecha o conceito com uma mensagem de fim de ano com um paralelo entre a diversidade brasileira biológica e literária. Perdão aos especialistas sobre as eventuais incorreções técnicas. Esta é a versão não revisada.

UN Secretary General Welcome Message for the 2010 International Year of Biodiversity from CBD on Vimeo.

outubro 28, 2009

O KARAÍBA


Terá Cabral errado o caminho pela pouca experiência em navegação? Terá sido obra dos ventos ou do acaso? Ou terá sido caso pensado? Quem pode dizer? As consequências desse descobrimento, já sabemos. Conhecemos a versão oficial, fruto de uma única perspectiva. Mas e aqueles que aqui já viviam há quarenta ou cinquenta mil anos? Como viviam, pensavam, compreendiam, agiam, amavam, acreditavam e se relacionavam antes da chegada dos europeus? Teria alguém dado ouvidos ao Karaíba, o sábio visionário que prenunciou a tormenta nas suas terras, águas, costumes, que modificaria tudo o que existia?


Desvendar esse passado de nossas terras na era pré-cabralina é o mote deste novo livro de Daniel Munduruku, breve lançamento pelo selo Amarilys, da Manole. Nas palavras do próprio Karaíba: “é preciso conhecer o passado para entender o presente e sonhar um futuro”. Para isso, Daniel voltou no tempo, buscou memórias ancestrais e costumes. No desafio de reconstruir a visão, por vezes deturpada, do que se passou séculos atrás.


A obra não desfaz as certezas do homem branco que narrou o descobrimento. Revela, porém, que muito nos falta para que possamos vislumbrar o futuro do Brasil. Conhecer e compreender esse passado nunca plenamente contado é apenas o primeiro passo nessa direção.

setembro 30, 2009

UMA HISTÓRIA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Mais uma imagem feita para a abertura do livro de Walter Fraga e Wlamyra R. de Albuquerque, novo lançamento da Editora Moderna. Os povos africanos que vieram para o Brasil trouxeram um imenso repertório de saberes, relacionados a técnicas de cultivo, religiosidade, música, culinária etc. No Brasil aconteceu uma notável interação dos povos de diferentes regiões da África. O contato com as tradições portuguesas e indígenas, também gerou uma cultura original, diversificada e muito rica: a cultura afro-brasileira.

setembro 04, 2009

BANQUETE PARA EDUCADORES


A Global editora pretende lançar este livro, de Daniel Munduruku, durante a Feira do Livro Indigena de Mato Grosso (FLIMT). A publicação é destinada aos educadores, sejam pais, mães ou professores. Trata das dificuldades atuais no desempenho desse papel, diante da crise de valores e referências na sociedade contemporânea, buscando soluções a partir do resgate da ancestralidade brasileira. E, sobretudo, motivado pela perspectiva orgânica, circular e holística tão característica das culturas nativas. Em parceria, Luciano Tasso e eu, produzimos todas ilustrações monocromáticas de capa e miolo. A obra será, a princípio, lançada durante a FLIMT, no centro históricos de Cuiabá, no dia 09 de outubro próximo. Por conta disso, estamos chacoalhando os nossos maracás!

agosto 12, 2009

O GÊNIO DO CRIME

Recentemente, a pedido da Global Editora, tive que (re)criar a ilustração de capa do maior sucesso, e marco da literatura jovem brasileira, do escritor João Carlos Marinho. Estranhei, pois já havia bolado capas para duas edições. A segunda, em particular, para celebrar o aniversário de 30 anos. Pois esse clássico seduz sempre novas gerações de leitores. E, uma vez mais, superou as expectativas. A ilustração quase abstrata acima, de figurinhas suspensas no ar, preparei para a capa da edição comemorativa de 40 anos do livro!

O CONDE FUTRESON

Em 1994 fui convidado pela Global Editora para assumir, no lugar do colega Roberto Barbosa, o posto de ilustrador oficial dos livros de João Carlos Marinho. Este livro – um aventura vampiresca da turma do Gordo – marca o início de uma longa parceria com o autor e também com a própria editora. De lá para cá, ilustrei a maior parte das suas obras. Sempre sob um registro gráfico muito particular, consensual desde a primeira encomenda. Os desenhos de capa e miolo originais foram feitos à bico de pena. Quinze anos depois, eis aqui a nova ilustração para a capa de mais uma edição deste clássico do João. Para quem se sentir inspirado pela obra, recomendo uma pousada na Transilvânia, administrada pelo meu amigo Fernando Klabin, especialista em viagens temáticas e hospitalidade moldava.

julho 27, 2009

HISTÓRIAS DA ÍNDIA

Um marajá, príncipe na Índia antiga, posa a frente do barbeiro. À direita, uma princesa e um macaco que acaba de dar um sumiço em seu pretendente: um faquir trapaceiro. Eunice de Souza nasceu em Pune, Índia. Doutoranda pela Universidade de Bombaim, mestre em Literatura Inglesa pela Universidade de Marquette (E.U.A.), ex-professora do St. Xavier's College. Poeta, romancista e autora de diversas obras para crianças. Neste livro, pela Edições SM, a autora reconta dez histórias. Divertidas, fantásticas, sagazes, fabulosas, foram recolhidas de várias regiões da Índia e do Panchatantra, a mais antiga coleção de histórias conhecidas. Cada porção de seu país tem suas singularidades, conforme a cultura e tradição local. Antes de começar a pensar e rabiscar, reuni informações sobre arte e cultura indianas. Agradeço, em particular, a colaboração imprescindível de três queridos amigos.

Uma ilustração feita sob medida para a primeira página do livro, mais conhecida como rosto ou frontispício. Ajna, ou o sexto chakra, fica bem entre as sobrancelhas e está ligado à intuição e à percepção sutil. Quando bem desenvolvido, indica um sensitivo de alto grau.

O deus Shankara, mais conhecido como Shiva, é ludibriado por um garoto cego e pobre da classe dos mercadores. A imagem acima foi feita para uma narrativa do estado de Gujarate, onde fica o templo de Somnath, dedicado ao deus Soma, que corresponde à Lua.

Uma simulação de um painel de madeira tradicional dos artesãos nagas, povo do atual território montanhoso de Nagaland, nordeste da Índia. Para ilustrar o dia em que o Sol se recusou a brilhar. Os nagas eram conhecidos como guerreiros habilidosos, dotados de poderes mágicos. Muitas vezes associados aos míticos homens-serpentes que teriam povoado o mundo subterrâneo, no princípio dos tempos.

julho 06, 2009

UMA HISTÓRIA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Escrito por Walter Fraga e Wlamyra R. de Albuquerque, breve lançamento pela Editora Moderna, o livro destaca o ríquissimo legado da cultura africana no Brasil. Parte do coração da África, mãe de todos os povos, navega pelos rios rumo ao deserto, percorre o Saara trazendo muitas informações e riquezas para enfim chegar à costa, de onde partiram tantos africanos pelo tráfico levados ao Brasil.

De cunho informativo, a obra não poderia prescindir de iconografia. Pude, porém, contornar esse objetivo mais documental e recriar poeticamente, pelo viés dos africanos e de seus descendentes, vários aspectos que compõem a nossa formação cultural. O livro não apenas discorre sobre as contribuições artística, religiosa, culinária, linguística, literária, jornalística, medicinal, filosófica, esportiva e musical. Ressalta também o quanto a resistência negra ajudou a fortalecer a idéia de liberdade no Brasil. E me ofereceu uma outra oportunidade de retratar Zumbi dos Palmares: um símbolo de liderança, identidade, nexo e resistência (imagem logo abaixo).

A cultura de um povo compreende seu conjunto de manifestações coletivas, mas vai além disso. Diz respeito à maneira como padrões de comportamento são assimilados e determinam o modo de ser e agir em sociedade, de se vestir, falar, de educar os filhos e lidar com o desconhecido, com a morte e com a busca de soluções e sentidos na vida. Publicações como esta são fundamentais para ampliar a reflexão e plena percepção da cultura e identidade brasileiras.

Também ilustrei mais um tumbeiro, abarrotado de malungos (companheiros de viagem), reduzidos a meras silhuetas esquemáticas, com frieza numérica. A ilustração abaixo mostra uma animada roda de samba, uma homenagem à sensibilidade e à pintura do mestre Heitor dos Prazeres.

maio 20, 2009

ERA UMA VEZ...HISTÓRIAS QUE CURAM

Pesquisas e exames de neuroimagem têm revelado os efeitos cognitivos e psíquicos que as narrativas são capazes de gerar, influenciando a capacidade humana de crer e tomar decisões. Pesquisadores de diversas áreas têm encontrado indícios de que nosso cérebro parece ser fisicamente estruturado para gostar de histórias. O fascínio da narração, portanto, é o mote dessas ilustrações que estarão na próxima edição da revista Mente e Cérebro. Há quem note algo de familiar no retrato do casal. Já a leitora abaixo se rende à prosa pirográfica e irresistível do argentino Julio Cortázar.

maio 02, 2009

PIGMEUS: OS PROTETORES DA FLORESTA

Lançamento da DCL Editora, 20/06 às 12h00 no 11º Salão FNLIJ, mais um livro de Rogério Andrade Barbosa. O projeto exigiu uma pesquisa sobre a iconografia desses povos africanos, genericamente conhecidos por Pigmeus. Ou gente pequena, como eles chamam a si mesmos. O povo da floresta tropical de Ituri, os Efe ou Pigmeus Mbuti, estão entre os mais antigos da África. Essa floresta, rica em recursos naturais, fica numa região montanhosa no nordeste da República Democrática do Congo.

A mais conhecida expressão artística dos Pigmeus é sua música polifônica. De uma certa maneira, traduz sua maneira de viver. A partir da arte tradicional de suas roupas (mulumbas), pintadas com bonitos desenhos abstratos, recriei os padrões estilizados e a geometria colorida. Também fiz registros de pintura corporal e combinei uma série recursos para traçar os desenhos, fazer as pinturas e colagens com elementos naturais, como argila, cal, palha, folhas e sementes. Houve também interferência digital nas ilustrações.

Os pigmeus se integram à floresta, com uma notável intimidade. Vivem, falam, dançam, cantam e encantam sob uma perspectiva bioética. Frágil equilíbrio diante de culturas estrangeiras e invasoras. Da floresta de Ituri a madeira tropical é colhida, legal e ilegalmente, em larga escala. Os minerais como o ouro e o coltan, utilizado em telefones celulares, são bastante explorados. No começo da década de 90, as companhias madeireiras comerciais malaias e européias invadiram a região, trazendo malária, prejudicando a caça e introduzindo o dinheiro, o tabaco e a maconha. Os Efe ficaram doentes, famintos e desalentados. Durante a última década, sua forma de vida tradicional tem sido abalada pela forte atividade florestal comercial. Desde a metade de 2006, a reconstrução de estradas têm oferecido às madeireiras mais acesso à floresta, comprometendo o habitat natural do Povo Pigmeu Efe. As guerras e o círculo econômico asfixia os Pigmeus: a floresta está desaparecendo. Disse o velho e sábio Efe Moke: "Vocês entenderão porque somos conhecidos como o povo da floresta... Quando ela morrer, morreremos com ela".

abril 22, 2009

GENTE, BICHO, PLANTA: esse mundo me espanta

Mais uma, para o livro da Ana Maria Machado. O tema aqui é o coiote, quase extinto no meio-oeste norte-americano, porque os criadores de ovelhas jamais aceitavam perder. Decidiram acabar com os coiotes. Os coelhos, as marmotas e os ratos agradeceram. Comeram folha, flor, raiz e tudo mais o que havia. Sem predador natural, proliferaram-se e acabaram virando uma praga. Comeram o capim. Arrasaram os pastos. E os rebanhos minguaram.

abril 06, 2009

COMIDA DE ENCHER OS OLHOS

Pintor, escultor, paisagista, tapeceiro, ceramista, desenhista, designer, cenógrafo, figurinista e barítono, Burle Marx também botava o pé na cozinha. Festeiro, preparava pratos inventivos para receber amigos como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Pablo Neruda, Le Corbusier ou a ilustradora botânica Margareth Mee. Nos famosos jantares em sua casa Burle cantava, tocava piano, decorava a mesa com orquídeas, estendia toalhas de mesa por ele pintadas, servia pitangomangolotango (vinho tinto com pitanga) e cuidava da apresentação dos pratos. Retrato feito para a revista BIONESTLÉ.

março 19, 2009

GENTE, BICHO, PLANTA: esse mundo me espanta

Ilustrações para o livro da Ana Maria Machado, que será relançado pela Global Editora. A capa mostra três desenhos que lembram aquelas tradicionais gravuras científicas. Cada figura, legendada e identificada com jargões arquitetônicos (fachada, elevação e planta), em parte traduzem o título do livro. Mas acrescentei um toque de humor e poesia ao comparar uma galinha, um homem e uma folha.



Neste livro, a escritora desenvolveu três narrativas enxutas, de inspiração científica ou baseadas em episódios reais, que acontecem em cenários diferentes. O tema comum é o desequíbrio ambiental causado pela acão humana. Na primeira, o naturalista Thomas Huxley desvenda um mistério à la Sherlock Holmes. A planície noturna do oeste norte-americano acima publicada é o cenário da segunda história, que trata de coiotes, ovelhas e de ganância desmedida.

A silhueta natural, alusão imediata ao mestre Arcimboldo, é umas das imagens feitas para a terceira história. Nela a autora brinca com a formação do universo, dos planetas, da origem da vida e da sua maior ameaça na Terra, por nós representada. Foi um desafio à parte ilustrá-la, pelos elementos quase abstratos dos primórdios da formação do nosso planeta. Usei grafite, tinta de parede, canetas velhas, metal enferrujado e arremates digitais. Do lápis ao computador, ferramentas também são parte de nosso rastro.

janeiro 09, 2009

HISTÓRIAS DE TERRA

O livro acima – escrito pela Marcia Kupstas e editado pela Salesiana – reúne uma história do Candomblé de matriz Iorubá, um trecho do épico hindu Ramayana e narrativas ancestrais contadas por uma avó japonesa. Misturando carvão, grafite, terra, areia, argila, pedra, madeira e mesmo mofo, fiz as ilustrações. No miolo procurei um registro mais arenoso, que fosse perceptível mesmo impresso apenas em preto. Abaixo estão reunidos os orixás para a festa do supremo Olorum-Olodumare. No centro, sob a terra, sua discreta filha Onilé.

janeiro 08, 2009

MAIS UMA PORÇÃO DE ARTE

As duas vinhetas acima também foram feitas para aquela matéria da revista BIONESTLÉ, sobre obras de arte e comida. Na receita botei uma pitada de Warhol, Miralda, Braque, Dieter Roth, Jean François de Troye, Chardin e outros. O Bread-Man é um alter ego do artista japonês Tatsumi Orimoto. Em Paris tem muitos outros desses aí!

janeiro 02, 2009

O BRASIL DE TODOS NÓS - II

A sombra e os pés são do Gorjala, parente do grego Polifemo. Talvez tenha sido introduzido pelos primeiros navegantes portugueses. Ou atravessou o Atlântico a pé, como preferem alguns. Esse monstro de um olho só adora carne humana, em particular, dos caçadores que maltratam a flora e a fauna. Do jeito que andam as coisas pela Amazônia, o cardápio para esse primo do Curupira está garantido. A pirogravura acompanha a narrativa recontada pela escritora Georgina Martins, parte de O BRASIL DE TODOS NÓS, da Editora DCL.